A primeira vez que eu não entendi que o cérebro faz parte do meu corpo foi quando tinha 15 anos.

Tinha acabado de me mudar de cidade e escola e achava que já estava velha pra nunca ter beijado alguém. Pra mim, na época, esse era o maior estresse que eu já tinha passado na vida, depois da morte da minha mãe, claro. Comecei a sentir tonturas, enjoos e calafrios. Fui ao clínico geral que levantou a possibilidade de hipoglicemia e como tratamento propôs que eu me alimentasse de 3 em 3 horas.

Acho que o “culpado” ainda estava solto porque mesmo me alimentando de 3 em 3 horas minhas tonturas continuaram.

A segunda vez que não entendi que o cérebro também faz parte do meu corpo foi quando procurei um cardiologista porque meu coração disparava “do nada” frequentemente. Até aí tudo bem. Acho que se você verificar algo de errado com o coração tem que procurar o cardiologista mesmo. Mas o problema é que, mesmo depois de todos os exames e do médico me garantir que não havia nada de errado no coração, ele continuava acelerando.

Quem poderia estar mandando meu coração bater no tum-tum-tum frenético assim, “do nada”?

Mas o médico tinha que estar muito errado mesmo. E esse aperto no peito? Só podia ser algum problema de coração. Mas tudo isso tão longe da cabeça…

E por falar em cabeça, bora pro neurologista. Será que tenho algo grave? Dores de cabeça intermináveis. Por incrível que pareça, nem no neurologista lembrei que o cérebro fazia parte do corpo e podia estar disparando essas reações.

Aquele “ovinho” nas costas, tensão muscular… Bora para fisiatra. Nada também.

Tontura de novo, desta vez só pode ser labirintite… Não. Ahn, ahn…

Foram inúmeras situações em que eu não entendi que o cérebro também fazia parte do meu corpo.

Eu era ansiosa e não sabia. E minha ansiedade sempre oscilou.

Atravessava períodos em que estava normal, sem me causar nenhum transtorno ou sintoma físico, e atravessava períodos que começava a ir ao médico porque estava sentindo alguma coisa, ou seja, atravessava períodos que ansiedade me causava sintomas físicos e transtornos.

Nos períodos de transtorno, assim como eu, é comum pessoas com sintomas FISIOLÓGICOS passarem por uma maratona de consultas atrás de doenças antes de conseguirem o diagnóstico.

Isso porque a ansiedade é sentida na pele e não no cérebro. É um conjunto de sintomas. São respostas corporais frequentemente associadas a infartos, problemas gastrointestinais, labirintite e muitas outras doenças.

É difícil acreditar que nosso cérebro seja responsável por disparar todas essas reações corporais. É comum pessoas passarem anos a fio fazendo exames e sofrendo sem compreender a doença.

Porque mesmo o médico assegurando que está tudo bem eu continuo sentindo?

Quando compreendi…

Só em 2012, 15 anos depois da minha primeira tontura. Eu estava sentada no escritório da minha empresa, não estava acontecendo nada de errado, quando recebi uma ligação e a voz da moça foi lentamente sumindo ao telefone. Na sequência meu coração disparou, minha pele ficou pegando fogo, nó na garganta, tudo ao mesmo tempo. Fui parar no hospital achando que estava morrendo.

Precisei ter uma crise de pânico para descobrir que o cérebro também faz parte do meu corpo. Quem me diagnosticou foi um psiquiatra.

Se você se identificou através de todos esses sintomas, já fez os exames e eles estão ok, mas os sintomas continuam atrapalhando sua vida, por favor, procure um médico de cérebro. Chama-se psiquiatra. Não é o clínico geral, não é o cardiologista nem o plantonista.

Psi-qui-a-tra.

Você não precisa sofrer 15 anos até descobrir que seu cérebro também faz parte do seu corpo.

 


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